sexta-feira, dezembro 02, 2005

Pois, só resta brincar...

Está cada vez mais difícil fazer humor com a realidade ridícula do Vaticano e do seu chefe de Estado, o Papa Bento XVI. Mas para mal dos nossos pecados, o Nuno Markl consegue dar a volta, senão, vejam só:

Eu vou desde já avisar que me preparo para abordar assuntos delicados nesta edição do HÁ VIDA EM MARKL. Por isso, malta que gosta de me cair em cima, escuteiros, pupilos do exército, amigos de Pimpinha Jardim, fiquem atentos e, se quiserem, tomem notas. Porque isto é o tipo de coisa ideal para vocês irem depois comentar para o meu blog. Eu dou-vos tempo para irem buscar um bloco de notas e um lápis número dois, vá. Eu espero.

Hummm. Pom, pom, pom…Preparados?

Quem é amigo, quem é? Quem é que vos dá tempo para estarem atentos e tomarem notas?

Sou eu.

Ora bem. Bento XVI. Bento XVI está para o anterior papa, João Paulo II, um pouco como aqueles policias mais duros das séries de televisão estão para os policias mais simpáticos e compreensivos. Se o Vaticano fosse uma série policial, Bento XVI era o policia que atirava mesas e cadeiras pelo ar e falava muito perto da cara do suspeito que estava a ser interrogado, e João Paulo II teria sido aquele policia mais paciente e calmo, sentado à mesa em frente ao suspeito a tentar convencê-lo a fazer um acordo.

Com a morte do “good cop” João Paulo II, ficou Bento XVI, o “bad cop” no seu lugar. O que quer dizer que, neste momento, estão a voar cadeiras e mesas e os suspeitos de homossexualidade estão a sentir Ratzinger gritar-lhes a um centímetro da cara deles.Já se sabia que o papa, quando ainda era o Cardeal Ratzinger – antes, portanto, de beber a poção mágica que o transformaria em Bento XVI - o papa era um feroz anti-gay. Como é óbvio, uma das prioridades de Bento, no Vaticano, foi tratar deste assunto com particular força.Se só agora ligou a telefonia, quando dizemos que “uma das prioridades de Bento, no Vaticano, foi tratar da questão dos homossexuais”, não nos estamos a referir a Bento, o clássico guarda-redes do Benfica nas décadas de 70 e 80, mas sim de Bento XVI, o super-herói cuja identidade secreta é o tímido e discreto Cardeal Joseph Ratzinger. Que se saiba, o antigo guarda-redes do Benfica, Bento, não terá estado no Vaticano a não ser, vamos lá, de férias – e, que se saiba, não tem como prioridade fazer a vida negra aos homossexuais.

Voltando ao relatório do Vaticano, ele diz, basicamente, que homossexuais, homens com tendências homossexuais e aqueles que apoiem a cultura gay não vão poder ser ordenados. Eu acho que eles cobriram, de facto, bastantes áreas. Temos portanto, os homossexuais; aqueles que, não sendo, dão uns ares; e aqueles que não sendo, apoiam os homossexuais. Acho que talvez o Vaticano pudesse ter juntado aqui mais malta, pelo sim pelo não, para ficar mesmo com tudo coberto: aqueles que, não sendo nem apoiando, vestiram-se pelo menos uma vez de mulher numa peça da escola, mesmo que tivessem apenas cinco anos de idade; aqueles que não sendo nem apoiando dirigiram uma vez a palavra a um tipo que era homossexual, independentemente de saberem se ele era ou não; aqueles que, não tendo dirigido nunca a palavra a um homossexual, estiveram numa mesma sala com um ou mais homossexuais; e, talvez ainda, aqueles que residem numa cidade onde haja homossexuais. Mas pronto, talvez eles tivessem algum receio que deixasse de haver diáconos, e por isso algumas destas categorias foram – penso que com alguma pena de alguns elementos do Vaticano – postas de lado.Assim temos estas três áreas proibidas. Pessoas que sejam homossexuais, que tenham tendências homossexuais e apoiem a cultura gay, estão proibidas de ser ordenadas na Igreja Católica. Estão proibidas disso e creio que também deverão estar proibidas de apertarem a mão ao Papa Bento XVI, se o encontrarem na rua, sem que primeiro sejam submetidas a uma desinfecção.O que vale é que o Vaticano quer passar uma imagem moderna, a imagem de quem sabe que o mundo de hoje não é preto e branco, mas tem toda uma miríade de cambiantes que devem ser tidas em conta. A dada altura do documento eles fazem questão de diferenciar as pessoas que têm tendências homossexuais profundamente enraizadas e as pessoas em que a homossexualidade tem a expressão de um problema transitório. Tipo as constipações. Esses têm de ser respeitados. Aquela malta que anda mal agasalhada, de repente apanha uma corrente de ar e já está: “Olha! Tu queres ver que eu gosto de homens? Eu sabia que devia ter trazido hoje outro casaco”. Esses são aqueles que, pelo que me é dado entender pelo documento do Vaticano, devem depois tomar um xarope qualquer e aquilo acaba por passar.Outra passagem deste documento que me parece importante é a que diz que quem pretende ser ordenado diácono tem claramente, e passo a citar, “que ultrapassar estas tendências pelo menos três anos antes de chegar a este estágio”. Eu gostava que o Vaticano me dissesse como é que esta situação é fiscalizada. Porque uma coisa é um diácono dizer “OK, pessoal, há três anos que não sou gay”; a outra é a verdade dos factos. É que se depois eu me vou confessar um dia a um padre e ele me diz qualquer coisa como “você tem uns olhos lindíssimos”, eu acho que isto é inadmissível. Se isto, um dia, me acontece, eu vou logo queixar-me à DECO.

Que tipo de testes são feitos a um homem que quer ser diácono e que diz que durante três anos se fez um homenzinho e nunca mais pensou em homossexualidade? A minha teoria sobre isto é que eles devem expor o candidato a diácono a discos dos Village People e da Gloria Gaynor. Aqueles que não conseguirem resistir e que desatem a dançar, são logo expulsos. Mas atenção, que aqueles que ficarem quietos na cadeira mas que forem apanhados a dar ao pezinho, a acompanhar o ritmo, essa malta também tem de ir logo fora. Agora que penso nisso, isto dava um bom “reality show”. Uma coisa tipo ÍDOLOS. DIÁCONOS! “Olá, bem vindos a mais uma emissão do DIÁCONOS… Vamos conhecer os finalistas…”Uma coisa que me apoquenta é o seguinte: a igreja católica é composta, na sua maioria, por pessoas calmas, respeitadoras, ouvintes de Phil Collins, ouvintes também de quem? De Elton John. Escutemos isto…(ELTON JOHN, CANDLE IN THE WIND)Cá está. Eis a subversiva e terrível obra de um homossexual. Que, curiosamente, até passa, em Portugal, em estações de rádio da Igreja. Estações de rádio que fazem questão de passar a música que acham que os seus ouvintes devem ouvir. Ora se estamos a falar de rádios da Igreja, elas são rádios ouvidas, certamente, por muitos jovens candidatos a diáconos. Se é isto que acham que eles gostam de ouvir e se eles gostam de ouvir isto, eles gostam de ouvir a obra de um homem que está prestes a casar com outro homem. Se eles gostam de ouvir isto, gostam de ouvir algo criado por homossexuais, são até capazes de comprar os discos do Elton John… Logo, estão a apoiar a – como é que dizia o documento do Vaticano? – ah, é isso: estão a apoiar a cultura homossexual. Então em que é que ficamos? A vida, às vezes, pode ser bem tramada.

Aproveito para agradecer o envio desta "pérola" à Sra. (estou a tentar... Alice... estou a tentar...) Alice.