terça-feira, janeiro 16, 2007

Moral e Aborto Voluntário

Em primeiro lugar, confesso que não sou nenhum teórico ou entendido nos domínios da ética e da moral, mas reconheço que são componentes com as quais lidamos durante toda a vida e que, acima de tudo, não são propriedade exclusiva de uma determinada ideologia, fé, crença ou religião, ao contrário do que é propagandeado pelo senso comum e mesmo pelo péssimo exemplo prestado pelo nosso Estado, supostamente laico.


Esta prévia «chamada de atenção» serve de introdução às implicações morais do aborto voluntário, pois quando se debate a despenalização do aborto até às dez semanas, por opção da mulher, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado, facilmente os apoiantes do “não” apelam à sua superioridade moral como justificação para a sua orientação.


Para quem está em cima do «pedestal» da «boa moralidade» peço-vos que tenham em consideração que as mulheres que optaram, optam ou optarão por abortar voluntariamente são, na sua maioria, as mesmas que cuidam dos(as) filhos(as) que optaram ou optarão ter. Porque os desejaram ou os desejarão «trazer ao Mundo» nas melhores circunstâncias. Enfim, sabiam que a grande maioria das mulheres indicam, em média, três razões para terem abortado voluntariamente?

Do alto do vosso «pedestal» considerem que, as mulheres, apesar de necessitarem e procurarem ajuda e apoio, por parte da família, amigos, médicos, advogados e padres, há que reconhecer que são elas o agente moral primário em decisões de gravidez e nascimento.


Eminências da boa moralidade assumam que é tão grave a tragédia natalista da Roménia comunista de Ceausescu como as actuais exigências do Supra Supremo e Absoluto Chefe de Estado do Vaticano. Pois tanto no primeiro caso como no segundo, imperou ou impera a exigência da proibição de qualquer tipo de aborto voluntário, sem olhar a circunstâncias, quando também condenavam ou condenam o uso de qualquer contraceptivo artificial (pílula, preservativo, etc...). Convém relembrar a realidade chinesa de aborto obrigatório, a qual é muito utilizada, de forma distorcida e enganadora, como argumento inspirado nas vossas alusões supra moralistas.


Para finalizar, deixo-vos duas questões pertinentes para a vossa reflexão supra suprema:


Não acham imoral, que oito mulheres morram por hora em resultado de um aborto inseguro?


Não acham imoral, que as mulheres sejam apontadas como criminosas, quando tomam a difícil decisão de abortar?

-Quem quer, ter a gentileza de atirar a primeira pedra?