sexta-feira, fevereiro 16, 2007

Conclusões Regionais


Os resultados regionais do referendo sobre a despenalização da interrupção voluntária da gravidez permitem-nos retirar duas conclusões:

A primeira conclusão detém-se na elevada abstenção, a qual poderá ser indicadora da indiferença dos(as) açorianos(as) por esta problemática ou a «vergonha» individual em assumir uma posição diferente relativamente a uma maioria muito mais perceptível e assumida. Porém, a primeira possibilidade parece-me ser a mais credível, dada a recusa dos(as) açorianos(as) em aceitar a realidade do aborto clandestino aliada a uma forte influência de uma cultura judaico-cristã.

Outra conclusão, prende-se com a vitória do «não» na Região Autónoma dos Açores, embora por uma vantagem menor do que a verificada no referendo de 98, o que se deve, em grande parte, às razões apontadas na primeira conclusão. Porém, e tendo em conta, a campanha pelo “Sim” nos Açores, notou-se uma clara evolução no modo e na quantidade de pessoas que se assumiram pelo “Sim”.

Felizmente, fazemos parte de um país, o qual na sua globalidade entendeu que não faria sentido continuar a tentar resolver o problema do aborto clandestino através dos tribunais ou «olhando para o lado» e esperando que tudo se resolvesse sem qualquer tipo de intervenção.

A região irá sentir a realidade da interrupção voluntária da gravidez, pois o problema deixará de «voar» para o continente e deixará de estar escondido debaixo do «tapete». Terá um impacto significativo na nossa sociedade, mas para evoluirmos necessitamos, por vezes, de reconhecer, sofrer e empenharmo-nos na resolução desta problemática.

O nosso objectivo será tornar a interrupção voluntária da gravidez rara, mas segura. Para tal, não podemos nos descuidar na prevenção e no apoio a uma maternidade e paternidade responsáveis. Por isso, se é verdade que gravidez e maternidade não são doenças, também é verdade que não são castigos.