quarta-feira, janeiro 03, 2007

Estão cheios de Força!

O Movimento “Açores pela Vida” já iniciou a sua campanha, no âmbito do próximo referendo sobre a despenalização do aborto. Este movimento é filiado na Plataforma “Não Obrigada” e a sua apresentação teve honras de primeira página de jornal (ironias, à parte, tem todo o direito de ser divulgado).

Confesso, que não estive presente na conferência de imprensa, mas li a noticia resultante nos dois jornais locais diários. Todavia, as declarações feitas suscitam-me algumas questões:

1º Para o Movimento “Açores pela Vida”, o que é “disponibilizar informação de uma forma não autoritária? Será que é através de leigos católicos oficiais (os leigos que, porventura, tenham outra opinião não são católicos, pelo menos, de forma oficial), padres, bispos, arcebispos, cardeais e Srs. Doutores Papas?

2º “A maioria das pessoas está muito mal informada sobre o referendo do aborto.” Será mesmo, ou não estarão informadas da forma mais conveniente para a hierarquia de um determinado Estado do tamanho de um cerrado? Ou será, que a melhor informação é aquele que mistura opiniões e decisões pessoais com a possibilidade de escolha por parte de todas as mulheres?

3º “O Estado deve orientar a sua acção para a defesa de nascimentos das crianças e de apoio às mães”. Mas, afinal, a aprovação em referendo de uma lei que descriminaliza o aborto exclui o Estado na sua acção para a defesa de nascimentos das crianças e de apoio às mães? É este o esclarecimento que o Movimento “Açores pela Vida” nos quer dar? Penso, que estamos muito “mal servidos”.

4º “O dinheiro dos contribuintes deve ser dirigido para a defesa de todas as pessoas, não podendo o Estado tapar o sol com a peneira, limpando a consciência com a morte de crianças que julga predispostas a causar problemas” (Afirmação Pública de Autoridade Supra Suprema com passagem marcada para o Iraque). Então, e o Estado deve continuar a tapar o Sol com a peneira em relação à prática de aborto ilegal em Portugal? Ah... já me esquecia, uma outra Autoridade Supra Suprema teve a gentileza de nos esclarecer “até à data, que se saiba, ainda não houve uma única mulher que tenha cumprido uma pena de prisão por ter praticado um aborto, tenha sido este clandestino ou não”. Tudo vai bem, quando enfiamos a cabeça pela terra abaixo! Qual avestruz!

5º “o argumento de que se deve despenalizar o aborto até às 10 semanas para que se façam cada vez menos abortos clandestinos, e assim se diminuam as complicações clínicas originadas pelos mesmos, não deveria ser suficiente para se levar a referendo uma questão tão delicada como esta” (Afirmação pública de um membro do Conselho de Autoridades Supra Supremas da Moral e Bons Costumes). Tem toda a razão. Aliás, tal questão deveria ter sido colocada na Assembleia da República, ou melhor ainda, deveria ser assunto tratado entre a mulher e o(a) seu médico(a).

6º “Em 2004, houve 1426 internamentos por abortos clandestinos e nenhum resultou na morte da mulher, o que significa que as consequências clínicas gravíssimas acabaram por ser todas contrariadas” Pois é, abortar ilegalmente em clínicas de “esquina” é, afinal, muito seguro, ou será necessário morrer alguém comprovadamente resultante de um aborto clandestino, para que passe a existir um verdadeiro problema. Isto para não referir os internamentos que não são comunicados como sendo em consequência de abortos clandestinos.

7º “toda a lógica deve ser promover uma sexualidade responsável” Pois, até concordo, logo que essa sexualidade responsável não seja da responsabilidade da padrelhada e bispalhada tal como um Director de um Boletim de Paróquia sugeriu em tempos. Será que a moral e a ética só existe na sacristia?

8º “meios anticoncepcionais hoje em dia existentes, com o profundo conhecimento da biologia reprodutiva da mulher e com a generalização do tão desejado planeamento familiar, não se justifica que ainda se tenha de recorrer ao aborto”. Olha só, outra vez com a mesma conversa. Dizem-nos isto, sempre, em vésperas de referendos sobre o aborto (também aconteceu em 1998), para logo depois, nos virem dizer que os únicos meios anticoncepcionais dignos são aqueles que são permitidos pelo Estado do tamanho de um cerrado.

Caros cidadãos, apesar de discordar convosco, sejam bem-vindos à campanha e dou-vos os parabéns por esta iniciativa e demonstração de cidadania.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Parabéns pela sua iniciativa. Para se votar conscientemente devemos estar devidamente informados e esclarecidos. Foi muito interessante ler os diversos artigos. Continue com este óptimo trabalho. Da minha parte tentarei divulgar este blog pelas pessoas amigas. Boa sorte para o futuro!

8:41 da tarde  

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