segunda-feira, março 20, 2006


Aparentemente estas abordagens sobre educação sexual são complementares e talvez o possam vir a ser se os membros do Gabinete de Apoio Sexual e os promotores das sessões de trabalho na Santa Casa da Misericórdia, assistirem, questionarem, entenderem e integrarem a conferência do presidente da Comissão Episcopal da Educação Cristã. Oxalá assim seja mas todos sabemos que, independentemente da postura dos agentes de educação em Angra, há duas grandes formas de abordar a educação sexual que se confrontam não só nos conteúdos que anunciam mas também nas mentes dos educandos. Será que é possível encontrar pontos de encontro entre cada uma dessas perspectivas? Vamos a ver.Os objectivos explícitos de cada postura são apenas diferentes, mas os fins implícitos a cada abordagem são fortemente contraditórios. O objectivo explícito da Educação Sexual promovida pelos Governos é evitar as doenças sexualmente transmissíveis e impedir o nascimento de filhos em situações económicas e sociais desfavoráveis. Por outro lado o objectivo explícito da Educação Sexual defendido pela Igreja é a promoção do valor essencial do amor e necessariamente do sexo que o amor criador pressupõe. Se nos ficássemos apenas pelos objectivos explícitos de cada protagonista nada de mal haveria. Aliás, só nos poderíamos congratular uma vez que o sexo que se conjuga com o amor criador é, necessariamente, seguro no que respeita às doenças sexualmente transmissíveis e promotor de óptimas condições para o nascimento de filhos.A guerra surge quando se tornam mais claros os objectivos implícitos da abordagem costumeira do Estado e aqueles que se subentendem na perspectiva usual da Igreja. De facto os agentes do Estado parecem muitas vezes pouco interessados em controlar doenças e promover a família, e preferem anunciar contraceptivos e publicitar o sexo livre de amor. Por outro lado a Igreja esquece por vezes a promoção do amor e perde-se no confronto directo à Educação Sexual promovida pelo Estado.Há todavia dados novos no domínio da sexualidade. Por um lado o falhanço rotundo das medidas promovidas pelos Estados no controle das doenças sexualmente transmissíveis. Por outro lado a enorme boa nova que a primeira encíclica de Bento XVI nos trás. Boa nova que nos prova, com a clareza própria de um alemão, que Deus é Amor e que o sexo é uma parte fundamental desse Amor.
in Jornal "A União" de 19 de Março de 2006
O taliban católico e defensor da “moral e bons costumes” em sexualidade confundiu-me com a CEP! Que horror. Tenho orgulho em vos dizer que tive o prazer de não estar presente naquela orgia de pseudo moralidade.

Pérola do dia: “Aparentemente estas abordagens sobre educação sexual são complementares e talvez o possam vir a ser se os membros do Gabinete de Apoio Sexual e os promotores das sessões de trabalho na Santa Casa da Misericórdia, assistirem, questionarem, entenderem e integrarem a conferência do presidente da Comissão Episcopal da Educação Cristã.”

Vivemos num Estado Laico ou numa qualquer teocracia ocidental ?
O presidente da Comissão Episcopal da Educação Cristã sustenta que “não se pode isolar cada área do conhecimento”.“É preciso ter um a cultura global e, ao mesmo tempo, uma cultura mais específica sobre determinados assuntos” – preconiza o prelado.D. Tomaz Silva Nunes, mesmo reconhecendo que a disciplina ainda se apresenta num estado “muito embrionário”, sublinha que a transversalidade da educação da sexualidade “não pode resultar na desarticulação de perspectivas educativas através de excesso de informação em detrimento da formação”.Neste contexto, o Bispo Auxiliar de Lisboa faz votos para que a educação sexual não seja reduzida “à dimensão mais individual da vivência do prazer, onde os efeitos negativos sejam, por assim dizer, atenuados, pela prevenção”. Na mesma linha de raciocínio, D. Tomaz da Silva Nunes lamenta que os “efeitos negativos” mais sublinhados sejam as doenças sexualmente transmissíveis ou a gravidez indesejada, esquecendo que “há outros aspectos negativos da vivência da sexualidade numa perspectiva individualista”.O contributo da Igreja, seja nas aulas de Educação Moral e Religiosa Católica , seja na catequese, deve “partir da realidade que se vive”.“A educação da sexualidade faz-se, de forma espontânea, desde tenra idade, no contacto com a diferenciação sexual, e na própria convivência nas escolas” – reforça o raciocínio.Para além deste aspecto, é fundamental “a transmissão de conhecimentos”, em várias disciplinas. O prelado alerta, todavia, que é necessário “não ficar apenas nos domínios da espontaneidade e da informação”, sendo necessário “integrar a dimensão da sexualidade num projecto de vida”. Assim, um terceiro domínio seria “o testemunho das pessoas mais velhas, com vivências concretas”.De qualquer modo, D. Tomaz Silva Nunes salienta a importância de se definir uma “matriz de finalidades e objectivos” da disciplina que possa ser gerida pelas escolas.Dimensões da personalidadeA conferência “À flor da pele – Educação da Sexualidade”, promovida pelo Serviço Diocesano de Apoio à Pastoral Escolar e integrada na Semana Nacional da Disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica, também contará com a intervenção de Cristina Sá Carvalho.Em declarações ao nosso jornal, a psicóloga da Universidade Católica Portuguesa referiu que a sexualidade “é transversal a todas as dimensões da personalidade, desde a biológica a mais profundas”. Nesse sentido, é importante “abrir as propostas educativas a todas estas dimensões”, até porque está em causa o “desenvolvimento pleno da personalidade”.Neste processo, continuou Cristina Sá Carvalho, cabe um “papel activo e participativo das paróquias, escolas, famílias e grupos de jovens”.“Ainda há um grande trabalho pela frente e cabe aos cristãos, e a todas as pessoas de boa vontade, fazê-lo” – precisa.Refira-se, por outro lado, que a Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) defendeu recentemente que o facto de a educação da sexualidade constituir uma componente do actual sistema de ensino básico e secundário, sustentada por legislação própria, “não pode conduzir à subalternização da família, nem impedir o direito de os pais não aceitarem determinados projectos ou acções por os considerarem desajustados em relação à perspectiva educativa que desejam para os filhos”. De acordo com a CEP, é tarefa fundamental do Estado “defender os direitos e deveres educativos dos pais e apoiar as instituições que os completem na responsabilidade da educação”.“Segundo o princípio da subsidiariedade, deve completar a tarefa e missão educativa dos pais, sem, todavia, contrariar os seus legítimos e justificados desejos, assim como, criar as estruturas indispensáveis, escolas ou outras instituições, na medida em que o bem comum o exigir”.Para a CEP, a educação da sexualidade deve basear-se nas “necessidades dos alunos”.“É destas que derivam as metas e objectivos, que se referem a um quadro de valores decorrente da noção de pessoa humana. Falhar na identificação dessas necessidades e alhear-se do referencial ético compromete totalmente o programa” – alerta a nota sobre a educação da sexualidade.Acresce, de acordo com a nota da CEP; é “imprescindível ter em conta que o desenvolvimento da sexualidade apresenta notáveis diferenças de ritmo, mesmo em indivíduos da mesma idade ou grupo, e que estas têm de ser respeitada”.“Não devem, por isso, antecipar-se informações, nem incentivar dúvidas ou dificuldades que o processo desenvolvimental ainda não proporcionou ou não aconselha. O respeito pelos alunos não permite a utilização de jogos e de outras estratégias, como o desempenho de papéis, que excitam a imaginação e exploram sensações de forma manipulatória, ferindo a sensibilidade e a dignidade dos alunos e não respeitando a sua intimidade e pudor. Tão pouco se poderão considerar como padrão, comportamentos evidenciados por minorias, tal como o que respeita às relações sexuais praticadas por adolescentes” – conclui o documento.
in "A União" 19 de Março de 2006
Não devemos antecipar as informações a dar aos jovens, nem incentivar dúvidas.

Já estou a ver o Zézinho a telefonar à CEP quando está prestes a ter uma relação mais carnal.

Utilizar metodologias mais activas em educação sexual é pernicioso, pois estamos a perverter as mentes inocentes dos jovens. Gosto da parte do “excitar a imaginação e exploram sensações de forma manipulatória.

Ridículo é pouco para descrever estas designadas orientações. No fundo, o que transparece destas orientações são três importantes conclusões e um sumário:

1º Nunca esclarecer as dúvidas dos jovens (ou adultos), pois nunca ficaremos a saber, quando é que é a altura certa para libertar estas informações que são tão confidenciais e perigosas. Pois, segundo a opinião do CEP, cada jovem (e adulto) tem as suas necessidades específicas.

2º O melhor é não trabalhar de forma activa, possíveis futuros comportamentos de risco, pois tal irá excitar a imaginação dos nossos jovens.

3º Só o Sr. Padre da paróquia mais próxima poderá libertar a melhor informação tal como a própria família (mas, o melhor mesmo é não falar em nada, pois tudo fica bem quando não se excita o raciocínio).

4º Sumário: O melhor é deixar tudo acontecer ao sabor da natureza e esperar pelos resultados e rezar, rezar, rezar e orar para que tudo acabe bem.

A noticia em caixa. Embora se encontre anexada à noticia principal não é protagonizada pelos mesmos intervenientes. As referidas sessões e workshops são orientados por mim, enquanto técnico da Delegação Regional da APF e alguns voluntários.
Cruzes Credo… que não me confundam com a CEP.

segunda-feira, março 13, 2006

Uma pérola homofóbica
Resta saber... será que os militantes deste partido fazem parte de uma minoria de aberrações ?
Comentários a esta entrevista: no comments.

quarta-feira, março 01, 2006

Mais um comunicado do MOVE - 3ª parte da "loucura"
Os apelos do MOVE à Sra. Ministra da Educação e ao GTES baseiam-se em medidas que foram cumpridas.
Sim, o GTES e o Ministério da Educação baseiam-se em estudos internacionais e nacionais que contemplam experiências e acções, já efectuadas e avaliadas; propuseram uma estruturação e modelos / planos de trabalho a aplicar nas escolas e que tentam incluir os pais e encarregados de educação e explicitam critérios de monitorização dos referidos modelos.
Mais grave, é a intenção implícita de mais um apelo lançado pelo MOVE: “garantir o direito de cada pai escolher o que considera mais adequado para o seu filho”. Pois, também poderíamos estabelecer uma comparação semelhante à das faltas e das decisões na “vida sexual” ao reivindicar o direito dos pais a definir o percurso académico e profissional dos filhos.
As reivindicações fundamentais do MOVE não fazem qualquer sentido, pois são todas cumpridas:

1º Ninguém exclui os pais do processo educativo. Os pais complementam esse sistema. Porém, também não poderemos pensar que os pais podem substituir o sistema.
2º A fundamentação dos programas de Educação Sexual é técnico – cientifica e não religiosa ou política tal como o MOVE tanto anseia.
3º É possível que os mecanismos de avaliação não tenham sido os melhores, mas tal, deve-se à quase inexistência de projectos para serem avaliados. Mas, mesmo assim, existem experiências piloto em várias escolas portuguesas, experiências essas que foram avaliadas. (escola de Águas Santas e outras).

No segundo comunicado, o MOVE indigna-se perante o prazo de apenas duas semanas para a elaboração de um plano de trabalho. Então, o que andaram a fazer desde 1984 ? Querem mais 22 anos para fazer alguma coisa ?
Em suma, o MOVE tem três objectivos:

1º Encerrar a APF, a filial da IPPF, a multinacional do terror.
2º Boicotar o processo de Educação Sexual nas escolas.
3º Ajudar a implementar um programa de Educação Sexual baseado exclusivamente na abstinência sexual.
Mais um comunicado do MOVE - 2ª parte da "loucura"
O MOVE afirma, no seu comunicado, que “existem avaliações internacionais de acções semelhantes (gabinetes de apoio e fornecimento gratuito de preservativos), concluindo que a distribuição de preservativos não é eficiente na diminuição da gravidez adolescente e de DSTs”. Perante isto, pergunto:
-Que estudos são estes ? Até, já ouvi falar num. (Hartigan, John.D., 1997. The Disastrous Results of Condom Distribution Programs) Serão estudos realmente objectivos ? É, porque existem estudos que indicam exactamente o contrário e outros que mostram o desastre que são as políticas de exclusiva abstinência (Kirby, D.,2001. Emerging Answers: Research Findings on Programs to Reduce Teen Pregnancy. Washington, DC: National Campaing to Prevent Teen Pregnancy, p.10; Kirby, D. (2002). Do Abstinence – Only Programs Delay the Initiation to Sex Among Young People and Reduce Teen Pregnancy ?).
-Então o que será eficiente na diminuição da gravidez adolescente e DSTs ?

O MOVE reclama que os jovens não podem ser sujeitos a experiências sociais. E será que os jovens podem ser sujeitos a estratégias educativas orientadas politicamente ou religiosamente ?
Os membros do MOVE devem ter problemas de afirmação pessoal. Ninguém quer excluir os pais do processo educativo escolar. Mas também não queremos que os pais substituam o próprio processo educativo escolar. Sempre pensei, que o objectivo dos pais fosse fornecer recursos emocionais a@s filh@s para que estes se tornassem autónomos e por fim independentes. Mas que parentalidade “galinha”. Toda a gente sabe, ou fazem que não sabem, que o adolescente é adolescente porque já não conceptualiza os pais como a única e infalível fonte de informação e socialização, e que existem assuntos que os pais têm dificuldade em abordar com os filhos e vice – versa. Por aí, podemos compreender, um dos porquês da Educação Sexual na Escola e dos próprios gabinetes.
O MOVE não acredita na autonomia e na maturidade dos jovens. Vê nos jovens, indivíduos ainda dependentes cognitivamente e emocionalmente dos pais. Mas que comparação fazem: a tomada de decisões sobre a vida sexual e as faltas que os jovens podem dar na escola.
O MOVE depois de queimar o Doutor Daniel Sampaio na fogueira manda, a seguir o Dr. Albino Almeida da CONFAP, porque este não concorda com as cabecinhas “iluminadas” do MOVE e pede que o “Dr. Albino Almeida se dedique antes a ler mais, a estudar mais e a ouvir mais, de modo a resolver os problemas dos “órfãos de pais vivos” sem estragar os filhos de todos os outros pais”. Eu faria o seguinte apelo ao MOVE: leiam mais, de preferência estudos credíveis, os quais abundam, a estudar mais as metodologias e a operacionalização dos poucos estudos que utilizam para defender a sua causa e, por favor, não se considerem donos dos vossos filhos e dos filhos dos outros, para que um dia mais tarde não venham a ser tratados como objectos de posse pelos vosso filhos.
Mais um comunicado do MOVE - 1ª parte da "loucura"
O MOVE lançou mais um comunicado “iluminado” à Nação. Sim, caros leitores, este pessoal nunca desiste (um ponto positivo pela persistência, a qual, só por si, é uma qualidade) e raramente tem dúvidas (senão, não seriam iluminados pelo nosso D. Duarte Pio).
Passando ao conteúdo do comunicado. O MOVE mostra-se preocupado com a formalização do protocolo entre os Ministérios da Educação e da Saúde, mais concretamente, com o “pormenor chocante” Sim, chocante. Sou eu que fico chocado com o teor destes comunicados. Mas enfim, ossos da vivência em democracia (ai... os cartoons).
Estão os leitores inquietos acerca da natureza deste choque. Será o choque tecnológico ? O choque que os adolescentes podem levar ao terem relações sexuais ? (metáfora usada pelo Movimento em Defesa da Vida há uns anos) Não. Trata-se da lei 120/99, que prevê a distribuição gratuita de preservativos nas escolas, logo que exista acordo entre os orgãos directivo e associações de pais e de alunos. Afinal, é isto que o MOVE considera chocante ? Será que o MOVE não considera chocante as elevadas taxas de gravidez indesejada na adolescência, as taxas cada vez mais elevadas de contágio pelas ISTs, a ignorância que os jovens, e não só, demonstram relativamente ao seu corpo, a ignorância acerca dos meios disponíveis para se prevenirem dos riscos associados a comportamentos sexuais ? E poderia continuar a enunciar uma série de “coisas chocantes”.
Aposto que os membros do MOVE devoraram, em tempos, a sub secção inteira que o Dr. Daniel Sampaio dispõe na secção de Psicologia das nossas livrarias. Mas agora, enfurecem-se porque o Professor Daniel Sampaio (lembrou-se) de relembrar que é possível dar preservativos nas escolas.
Facto interessante é o carácter ilógico da lei 120/99. Ilógico porquê ? Porque, segundo, esta lei, é possível dar preservativos nas escolas, logo que haja acordo por parte dos orgãos directivos e associações de pais e de alunos. Então, e a venda de preservativos fora da escola ? Um jovem pode ter acesso livre a preservativos num centro de saúde e a lei não apresenta qualquer tipo de requisito, além disso, um jovem poderá comprar um preservativo numa farmácia ou mesmo num supermercado, ou irá precisar da autorização do responsável pelo supermercado ou da farmácia ? Claro que não !