quarta-feira, novembro 30, 2005

O Abominável Homem das Neves

Quão doente tem de estar uma sociedade para que se gaste tanto tempo a esmiuçar um assunto menor como as eleições legislativas e tão pouco ou nenhum a discutir a magnífica entrevista que João César das Neves deu ao jornal O Independente da passada sexta-feira? E quão doente tenho eu estar para começar uma crónica com a palavra “quão”? A resposta às duas questões é: muito, evidentemente.

Em duas páginas de entrevista, César das Neves usa cinco vezes a palavra deboche e condena o aborto, o preservativo, a homossexualidade, a masturbação e tudo o que, de um modo geral, ele calcula que possa dar prazer a alguém. Só há uma coisa que não se desculpa ao entrevistador, José Eduardo Fialho Gouveia: o facto de não ter perguntado a César das Neves qual é a marca de fósforos que usa nos seus autos-de-fé. Continuamos sem saber, e é pena.
A tese fundamental de César das Neves é esta: “o acto sexual não é só uma questão de prazer”. E, se for excluída a intenção de procriar, o sexo transforma-se “numa coisa mecânica, animal”.
A ideia de que o sexo para procriar é humano e o sexo pelo prazer é “uma coisa animal” é interessante e a Natureza confirma-a: quais são os animais para quem o sexo serve o propósito da procriação? Raríssimos, se é que há algum. Mas quantas vezes vimos já, no programa National Geographic, um urso a chegar à toca, cansado de um dia de trabalho, apenas para encontrar a ursa mergulhada numa banheira de espuma enfeitada com pétalas de rosa e velas a toda a volta, convidando o macho para uma noite de simples prazer animal? Tantas.
No fundo, é por causa de pessoas como César das Neves que o sexo é tão bom. Sem aquela noção de pecado, de transgressão, de malandrice perversa, o sexo teria muito menos graça. Por isso, peço desculpa por dizê-lo tão cruamente, mas a verdade é esta: João César das Neves dá-me tesão. Não vale a pena fugir à realidade.
Este homem faz mais pela minha sexualidade numa das suas crónicas do Diário de Notícias do que duas camionetas cheias de coelhinhas da Playboy. Ainda hoje não compreendo porque é que o DN não imprime a crónica de César das Neves na página central e com folha desdobrável, para que milhares de mecânicos a possam pendurar em paredes de oficinas de todo o Portugal. Só pode ser má vontade de algum puritano.
Mas também é preciso dizer, com a mesma honestidade, que, em certos aspectos, César das Neves não tem razão. A condenação da homossexualidade não me incomoda por aí além. Simpatizo com a causa da defesa dos direitos dos homossexuais, mas não estou particularmente empenhado nessa luta. Agora, não admito que César das Neves toque na masturbação.
A masturbação é um direito inalienável do ser humano que só por esquecimento imperdoável ou pérfida maldade foi omitido da Declaração Universal das nações Unidas. Em defesa da masturbação, estarei disposto a ir até ao fim do mundo – e não estou sozinho. Milhares de adolescentes com óculos e a cara cheia de borbulhas estão comigo. Prepare-se para nós, César das Neves.

Por Ricardo Araújo Pereira (In Boca do Inferno, revista Visão, nº 625)

Um pouco de humor, para relembrar o posicionamento do Dr. João César das Neves, geralmente tomado pelos meios de comunicação social como especialista em tudo e mais alguma coisa, desde economia, à masturbação, à verdadeira identidade de Maria Madalena.
Enfim...

quinta-feira, novembro 24, 2005


E este cartaz, alguém já tinha visto? Um amigo mandou-mo por messenger outro dia.
Tenho de confessá-lo: muito mais do que a esquerda, a direita surpreende-me todos os dias. Nunca vos aconteceu imaginar um bicho enorme e nojento na sede do CDS-PP, chamado demagogia, a quem dão de comer estes cartazes?
Penso que esta atitude de confundir o direito de abortar de uma mulher, com esta desonestidade política mórbida, chamando de assassinos todos os membros da JS, devia ter direito a um submarino na cabeça dos seus ideólogos.

Mas pronto, não vale a pena dizer mais nada. Acho que a imagem fala por si...
Oportunidade para o "conto do vigário"

O Vaticano decidiu oficializar uma directiva que proíbe a entrada de homossexuais nos seminários católicos. Podem encontrar pormenores na noticia do "Publico" abaixo transcrita:
Pois é... imaginem, o problema que os Seminários agora enfrentam... como distinguir os candidatos homossexuais dos heterossexuais ? Fácil... que tal se alguém apresentasse uma máquina que detectasse homossexuais... já viram a oportunidade para aplicar este conto do vigário aos Seminários.

quarta-feira, novembro 23, 2005

E.U.A cada vez mais laicos
Pois, é. Os democratas americanos (o que há de mais liberal na grande superpotência) perderam as eleições devido à falta de compatibilidade com os valores religiosos e consequentemente com os eleitores cristãos. Bem, pelo menos, é o que o antigo presidente Jimmy Carter afirma. Pois, segundo este, o seu partido não pode continuar a ser "intolerante" (que irónico) com os seus representantes que são contra o aborto.

Vejam são esta afirmação: "Este assunto (aborto) e outros assuntos são um ponto em comum que tenho com o Sr. Bush." "Nunca me convenci, que se me injectassem a minha cristandade no que faço, Jesus Cristo, de certeza, não aprovaria o aborto".

Afirmações destas só poderiam vir de um antigo presidente de uma superpotência da democracia e da liberdade. Em suma, quando for grande quero ser americano, mas, não sei se quero ser laico (já estou confuso). Afinal, quantos partidos há na grande superpotência ?
Fonte: Washington Times 04/Novembro de 2005

domingo, novembro 20, 2005

Educação Sexual e "moral a martelo"
É claro, que a escola poderá informar e até formar sexualmente. Mas formar, do ponto de vista dos valores, é permitir a discussão de valores num clima de tolerância, aceitação e respeito pela opinião e escolha desses mesmos valores pelos outros. Ou seja, os únicos valores transmitidos pela escola estatal devem ser de carácter universal e indispensáveis a uma vivência social em democracia.
No entanto, o mais paradoxal é que no mesmo artigo a que me refiro, a pessoa que defende a impossibilidade da existência de educação sexual na escola é a mesma, que depois vem defender que esta só é possível na família e nas escolas da Igreja ou de outras escolas não estatais, pois estas, devem de facto, ter uma superioridade moral.
Conclusão: se, não fores católico obediente ás ideias impostas pela hierarquia da Santa Sé, não poderás usufruir da educação sexual nas escolas estatais, pois estas não têm superioridade moral para te formar. Conclusão: VIVA AO ESTADO LAICO ! É impressionante, como ninguém se pode assumir, em Portugal como laico, senão é logo chamado anti – clerical ou traidor, se além, de defensor da laicização do Estado também for Católico.
Eu que até, há pouco tempo pensava, ingenuamente, que a hierarquia católica era favorável à laicização do Estado. Porém, fiquei sem saber o que pensar, desde que assisti à recente problemática da obrigatoriedade da disciplina de Educação Moral Religião e Católica em Timor-leste e o silêncio conivente do Vaticano. Que razões estarão subjacentes a este silêncio ?Para concluir, faço aqui um apelo: assine o Manifesto a favor da Educação Sexual na delegação regional dos Açores da APF ou no nosso site em: www.apfacores.no.sapo.pt
PS: Este artigo tenciona responder ao incitamento público feito pelo cidadão Barcelos Mendes, no Jornal “A União” do passado dia 17 de Setembro, para que os pais e/ou encarregados de educação da nossa região assinassem a petição promovida pelo MOVE. Esta “famosa” petição iniciou-se aquando da divulgação de uma reportagem “escaldante” acerca do estado da Educação Sexual em Portugal pelo jornal “Expresso”. Esta reportagem foi considerada pela Alta Autoridade para a Comunicação Social, no passado dia 21 de Setembro de 2005, como sendo parcial e contendo elementos falsos e atentatórios da honorabilidade da APF. O “Expresso” terá também recusado publicar todos os comunicados feitos pela APF.
Por tudo isto, será que faz sentido assinar esta petição baseada em mentiras e divulgada pelo cidadão Barcelos Mendes ? Prefiro acreditar que este cidadão não conhecia a realidade.
Artigo publicado no jornal "A União" a 8 de Outubro de 2005

quinta-feira, novembro 17, 2005

É de homem !!!
Caros leitores, sigam o meu conselho.
Se, eu pudesse estaria neste evento muito interessante organizado pela APF principalmente para os homens. Um evento que marca o início da 3ª semana de Esclarecimento Contraceptivo. Já agora, se vives nos Açores (ilhas Terceira, S.Miguel ou Faial) contacta a Delegação Regional dos Açores da APF para que possas colaborar na campanha regional.
Para teres mais informações acerca deste evento "clica" na imagem.

Para teres acesso ao programa da campanha regional da 3ª Semana de Esclarecimento Contraceptivo então "clica" na imagem seguinte:

quarta-feira, novembro 16, 2005

Bispo “gay” critica posição da Igreja Católica

O primeiro bispo anglicano, Gene Robinson, assumidamente homossexual criticou a atitude inflexível e intolerante da hierarquia da Igreja Católica e caracterizou-a como sendo “vil” relativamente aos homossexuais.

Este bispo anglicano de New Hampshire recebeu uma ovação quando descreveu o modo como foi alvo de preconceitos quando assumiu a sua orientação sexual.

O bispo, Gene Robinson, ainda afirmou que muitos católicos romanos estão a aderir à Igreja Anglicana e que o Papa Ratzinger foi o impulsionador disso, pois parece ser tão “vil” ao pensar que resolverá o problema dos escândalos de abuso sexual de crianças ao expulsar os homossexuais dos seminários. O que não contribui em nada para a real resolução deste problema com o qual a Igreja Católica se tem confrontado.

O seu discurso em St-Martin-in-the-Fields, em Trafalgar Square esteve integrado no 10º Aniversário da organização de direitos dos homossexuais “Changing Attitude”

BBC News 06/Nov/05

segunda-feira, novembro 14, 2005

Educação Sexual e "moral a martelo"
Foi com estas acusações que nasceu o “MOVE – Movimento de Pais” com a intenção de defender os nossos filhos “de quem os quer catequizar sem o seu conhecimento e consentimento”. Porém, estou na dúvida acerca de quem quer catequizar quem. Pois vejam: li algures, num jornal local, que a educação sexual seria impossível nas escolas estatais, pois seria impossível disponibilizar uma informação neutra, devido à orientação de discurso que nos é dado pela cientificidade e pela laicidade, a qual é feita de forma acrítica. Mas, desde quando é que a ciência é acrítica? Se assim fosse, a ciência não evoluiria. Que eu saiba, o que mais se aproxima desta realidade é a religião e as ideologias de extrema esquerda e direita, que não permitem qualquer discussão critica, e que, por isso, estagnaram no tempo.
Continua... Artigo publicado no Jornal "A União" de 8 de Outubro de 2005

sexta-feira, novembro 11, 2005

Uma correcção
Deixo aqui uma correcção ao "post" "Uma Campanha censurada pela MTV". Deixo aqui o meu especial agradecimento ao "gurui".
"Uma pequena correcção: não foi a MTV que censurou estes anúncios. Aliás, foi a própria MTV que os realizou (porque é que haveria de censurar uma coisa que produziu?!). Foram instâncias maiores e poderes superiores que impediram a MTV de passar estes anúncios e obrigou a estação a colocá-los na gaveta. "
Post de autoria de gurui a 8 de Novembro
Educação Sexual e "moral a martelo"
Sétima acusação: A APF anda a distorcer a noção de família. Pois, para algumas pessoas, a família nuclear só pode seguir um único modelo: mãe, pai e filhos(as). Então, e as famílias monoparentais, famílias sem filhos, famílias de avós e netos, casais do mesmo sexo, entre muitas outras formas possíveis de famílias? Decerto, que as famílias que não se enquadram nesta tipologia única e que, por isso, não preenchem os requisitos da moralidade judaico-cristã não têm lugar na sociedade.
Continua... Artigo publicado no Jornal "A União" a 8 de Outubro de 2005

quinta-feira, novembro 10, 2005

Como seria uma lei sobre a IVG com este "expert" em bioética ?
O acto de violação é um «crime horroroso», mas «praticar o aborto de um feto são, fruto, embora, de um acto abjecto, é fazer pagar a vítima inocente pelo criminoso».A frase citada pertence ao médico Walter Oswald.
Foram as palavras com que o director do Instituto de Bioética da Universidade Católica inaugurou as conferências do Congresso Internacional da Nova Evangelização a decorrer em Lisboa.
Retirado de Diário Ateísta (9 de Novembro de 2005)

quarta-feira, novembro 09, 2005

Continuação - Educação Sexual e "moralismo a martelo"
Sexta acusação: “ausência da família, o próprio envolvimento cultural e, mais grave, a possibilidade de qualquer pessoa dizer não”. Outra acusação sem nexo. Aliás, se consultarem o índice das “Linhas Orientadoras – Educação Sexual em Meio Escolar” facilmente encontram um capítulo que trata da importância da família e da ligação entre escola e pais em projectos em educação sexual em meio escolar. No mesmo documento e na própria orientação da APF, o envolvimento cultural nunca é esquecido, antes pelo contrário. A seguir, descrevo um exemplo que ilustra esta realidade: em diversas escolas do pais e durante o dia dos namorados, os alunos são encorajados a investigar acerca das relações amorosas, quer na actualidade, quer no passado, na sua região. Para tal, entrevistam outros jovens e os próprios pais e avós (as mentes mais distorcidas devem estar, neste momento, a indagar acerca das questões colocadas). Descansem, que ninguém incentiva ninguém a questionar sobre as posições e práticas sexuais coitais dos respectivos avós ou bisavós. O objectivo não é esse, mas antes, a focalização no contexto social das relações de namoro, noivado e casamento e ninguém é obrigado a revelar a sua intimidade. Ainda acerca desta actividade, as disciplinas de línguas estrangeiras também podem colaborar através da demonstração dessas mesmas vivências, mas em contextos culturais, sociais e históricos diferentes.
Continua... Artigo publicado no Jornal "A União" a 8 de Outubro de 2005

terça-feira, novembro 08, 2005

As teorias "perigosas" do MOVE
O MOVE é uma associação que teima em querer nos defender da imoralidade dos ensinamentos prevertidos de algumas ONGs a trabalhar no terreno a Educação Sexual.
Passo, agora a transcrever algumas linhas orientadoras desta associação. Para começar, vejam só o que esta associação defende que deve ser ensinado nas escolas. Não será isto perigoso ?

"A masturbação pode criar uma dependência difícil de superar, que enfraquece a vontade e por vezes debilita o organismo.
A masturbação bloqueia o desenvolvimento da personalidade a caminho da sua maturidade, deixando-a na etapa da puberdade ou adolescência (...), provoca sentimentos de culpa, sentimentos de vergonha por não ser capaz de dominar essa tendência, e vivências de autodesprezo ou desvalorização. Também conduz a situações de isolamento e egocentrismo. Esta satisfação egoísta e solitária contradiz uma das premissas básicas de uma sexualidade madura: a doação a outrém, a comunhão, a participação física, afectiva e espiritual."
(E. Rojas, Enciclopedia de Ia sexuaIidad y de Ia pareja. Madrid: Ed. Espasa Calpe, 1991, p.88.)
Ser ou não ser homofóbico(a). Eis a questão...
Tenho a certeza que não seria a única escola com este tipo de "gestão de afectos".
Esta "pérola" vem no DN de hoje. Bem, deixo a notícia à vossa consideração:
Namoro homossexual polémico
"Escola de Gaia tem como política não permitir beijos em nome do 'respeito'"
elsa costa e silva
O namoro entre duas jovens alunas gerou polémica na Escola Secundária António Sérgio, de Gaia. A Associação de Estudantes (AE) considera que o Conselho Executivo demonstrou uma atitude homofóbica relativamente às duas alunas, mas os responsáveis pela escola negam qualquer perseguição ou discriminação das jovens. O Ministério da Educação afirmou ao DN não ter qualquer conhecimento do caso.O caso teve início há quase duas semanas, a partir de uma discussão entre uma das alunas homossexuais e uma auxiliar de educação. Mas as versões não são coincidentes os alunos contam que o problema começou com uma troca de palavras entre as duas. O presidente do Conselho Executivo, António Teixeira, acredita que as duas alunas terão sido encontradas a beijarem-se, afirmando ser política da escola, sem qualquer discriminação na orientação sexual dos alunos, não permitir manifestações de afectos, como beijos. Esta posição resulta, segundo explicou a escola em comunicado, de "uma necessidade de promover o respeito mútuo, a sã convivência entre toda a comunidade escolar".Por isso, garante, "o relacionamento das duas alunas não tem incomodado este Conselho Executivo". E explica ainda que deu, "sem quaisquer reticências", autorização para a realização de um debate na escola sobre o tema "Homofobia". O comunicado da escola refere que os alunos "podem tomar a opção sexual que entenderem, preservando sempre os limites exigíveis a todos os utilizadores de um espaço público. E isto é válido para homo e heterossexuais".Jorge Pereira, membro da direcção da AE, diz, contudo, que uma das jovens foi "repreendida pela falta de respeito que teve com a empregada, mas também pelos comportamentos homossexuais dentro da escola". E que, depois da conversa mantida com o presidente do Conselho Executivo, foi ter com a AE a pedir ajuda. Nessa sequência, explica Jorge Pereira, foi organizado o debate sobre homofobia. Quanto à proibição de beijos no interior da escola, o membro da AE argumenta "nada haver nos estatutos" e que havia mesmo uma professora que "fazia ronda na escola para ver se não havia exageros nos afectos".A situação está agora "calma", adianta Jorge Pereira. As duas alunas, de 17 e 19 anos, a frequentar respectivamente o 10.º e o 11.º ano, não foram identificadas. Aliás, dizem os colegas, os pais não sabem que são homossexuais e a mãe de uma delas terá sido informada do facto pelo director de turma. Quanto à restante comunidade escolar, afirma a AE, não há quaisquer problemas de rejeição relativamente às jovens. "Alguns dizem piadinhas, mas é normal", afirma Ana Marques, outro elemento da Associação de Estudantes.

segunda-feira, novembro 07, 2005

Uma campanha censurada pela MTV

Legenda:

Texto ao lado das torres: “2.863 mortes”
No cartaz que o homem segura: “HIV positivo. Por favor ajude”.
Ao lado do homem: “40 milhões de infectados no mundo.”
“O mundo unido contra o terrorismo. Deveria fazer o mesmo contra a SIDA”.


Legenda:

Texto ao lado das torres: “2.863 mortes“.
Ao lado da criança: “824 milhões de pessoas subnutridas no mundo”.
“O mundo unido contra o terrorismo. Deveria fazer o mesmo contra a fome".


Legenda:

Texto ao lado das torres: “2.863 mortes“.
Ao lado do homem: “630 milhões de indigentes no mundo”.
“O mundo unido contra o terrorismo. Deveria fazer o mesmo contra a pobreza”.

Tal como na Euronews: "No comments"

domingo, novembro 06, 2005

Continuação: Educação Sexual e moral "a martelo"

Quarta acusação: “os professores não tiveram, nem têm formação nesta área e não foi feita ainda qualquer avaliação.” A APF tem tentado, sempre que possível dar formação a professores. Na região, algumas entidades formadoras de professores também o tem feito. Porém, este tem sido um processo lento e que, por vezes, conta somente com a boa vontade e interesse de alguns professores, pois em boa verdade, a educação sexual ainda está a dar os primeiros passos em Portugal e em alguns casos ainda nem começou. Então, como querem avaliar algo que ainda nem se iniciou ? De qualquer maneira, a APF, o Movimento em Defesa da Vida e a Fundação Portuguesa “A Comunidade Contra a Sida” sofrem avaliações anuais por parte do Ministério da Educação com quem têm um protocolo.Quinta acusação: “não há contexto emocional”, algo proferido por alguém que de certeza nem se deu ao trabalho de, ao menos, folhear as “Linhas Orientadoras – Educação Sexual em Meio Escolar”, os exemplos são inúmeros: dinâmicas de grupo onde se treinam competências ao nível da comunicação (o saber dizer “não” está incluído tal como o saber dizer “sim”), do reconhecimento dos afectos, da própria ética na relação com o outro, etc…
Continua... (Artigo publicado no Jornal "A União" a 8 de Outubro de 2005)

sábado, novembro 05, 2005

Continuação: Educação Sexual e Moral "a martelo"
Terceira acusação: a APF anda a incentivar os nossos filhos(as) a actividades sexuais de natureza homossexual, e que por isso, estaríamos a promover modos de vida doentios e pervertidos. Nada mais falso, a APF não promove qualquer tipo de orientação sexual, a APF dá a conhecer todas as orientações sexuais e dá a distinguir as patológicas das não patológicas. Ora, se a homossexualidade é tão patológica quanto a heterossexualidade e a bissexualidade, então o nosso objectivo passa pela aceitação, ou pelo menos, pela tolerância relativamente a todas as orientações sexuais não patológicas, sejam estas maioritárias ou minoritárias e sem quaisquer moralismo judaico - cristãos ou de qualquer ideologia.
Continua... (Artigo publicado no Jornal "A União" a 8 de Outubro de 2005
Uma opinião de um conhecido antropólogo português, Miguel Vale de Almeida, sobre a decisão da comissão Sampaio e que resume bem a minha posição:

Adeus, educação sexual.

A proposta do grupo de trabalho para a educação sexual mostra bem o que é o estado deste país. Começa pela composição do próprio grupo: psiquiatras, ginecologistas, psicólogos surgem como os especialistas em sexualidade. Isto é, a medicalização da mesma continua alegremente no século XXI como se estivessemos no século XIX. Pedagogos? Cientistas Sociais? Grupos ligados aos direitos sexuais? Qual quê! Essa gente "suja" a limpeza "biológica" da sexualidade...

(Parênteses: ...e retira os privilégios de estatuto e casta de uma certa classe médica que se assume como o corpo sacerdotal da secularidade; despromovidos os juristas em virtude do mau funcionamento da Justiça, o que se quer é médicos como mandatários, comentadores políticos e sociais, escritores; economistas à parte - que servem para interpretar os códigos da moderna Bíblia do Mercado - os médicos são chamados a gerir a teologia da Bio-sociedade, da ideologia da genética, do medo do risco e da contaminação).

Mas mais graves são as propostas. A educação sexual passaria a ser parte de uma "educação para a saúde" vista em termos de prevenção de riscos e em que tabagismo e toxicodependência são postos no mesmo plano que a gravidez indesejada ou as DST. Esta gestão do risco e do medo ficaria ainda ligada a centros de saúde locais e, é claro, seriam os estudantes das áreas universitárias biomédicas os recrutados como monitores. Podem ter deixado, por exemplo, de considerar a homossexualidade como doença (e a julgar pelas barbaridades disfarçadas de platitude que tenho ouvido a Daniel Sampaio, nem disso estou certo...), mas não deixaram de considerar a sexualidade como um campo clínico.

Por fim, o método, a ideia de transversalidade (isto é, não haver uma cadeira de educação sexual): erro crasso. Significa não reconhecer que, estando o ensino organizado em cadeiras, estas dignificam e tornam real o assunto de que tratam. A transversalidade parece bonita, dinâmica e modernaça mas, no nosso sistema, significa uma de duas coisas: ou o desaparecimento rápido do tema nas escolas, ou a sua remissão quase total para as mãos do universo biomédico. Nada impede que uma cadeira de educação sexual seja, ela sim, ponto de encontro de transversalidades, onde se encontrem os aspectos médicos, históricos, sociais, psicológicos e culturais da sexualidade.

sexta-feira, novembro 04, 2005

Continuação "Educação Sexual e Moral a martelo"
Segunda acusação: a APF anda a incentivar os nosso filhos a terem relações sexuais. Os técnicos da APF não incentivam, ninguém a ter relações sexuais, nem formam professores ou técnicos para que tenham este tipo de discurso junto aos adolescentes tal como também não incentivamos ninguém a ter relações sexuais só depois do casamento ou dando indicações precisas acerca do momento “mais adequado” para iniciar qualquer tipo de relacionamento sexual. Incentivamos os jovens a tomarem as suas próprias decisões, mas de forma esclarecida e informada.Defendemos a facilitação do fornecimento de contracepção a qualquer pessoa em idade fértil, tal como está previsto na lei (art. 4 e 5 da portaria 52/85 de 26 de Janeiro) e defendemos a distribuição de preservativos nas escolas, logo que tal esteja enquadrado num projecto estruturado de educação sexual ou através de centros de atendimento / aconselhamento nas escolas e ao contrário do que possam pensar, a distribuição de preservativos nas escolas não é um elemento incentivador para que os jovens tenham relações sexuais e apresento, pelo menos, dois argumentos: as pessoas (adolescentes, jovens ou adultos) podem ter acesso à informação preventiva e acesso aos meios de prevenção, o que não implica necessariamente a utilização (o que é de lamentar), por isso, imaginem que cenário teremos, se as pessoas não tiverem nem informação nem meios. Um segundo argumento prende-se com diversos estudos que concluem acerca da inexistência de uma relação entre a disponibilização de preservativos em escolas e o aumento da actividade sexual dos alunos (Blake. S.M., 2003 entre outros). Por incrível que pareça, nunca encontrei um único estudo que concluísse o contrário.
Continua...
Artigo publicado no Jornal "A União" a 8 de Outubro de 2005

quinta-feira, novembro 03, 2005

Opinião Pública "SIC Noticias"

Alguém viu o "Opinião Pública" da SIC Notícias de hoje ? Bem, para quem não viu, o tema foi "Disciplina de Educação Sexual. Sim ou Não ?" e o convidado foi o Doutor Daniel Sampaio que liderou o grupo de avaliação do estado da Educação Sexual em Portugal.
Foram várias as conclusões tiradas por este grupo de avaliação. Nomeadamente:

1º Foi feita pouca coisa em Educação Sexual desde 1984. As Acções foram sempre muito dispersas e pontuais, segundo a opinião desta Comissão de Avaliação.

2º Não haverá uma disciplina de Educação Sexual, o que, por si só, não é uma novidade. Haverá antes, uma disciplina de Educação para a Saúde onde várias temáticas são abordadas, entre as quais, a educação sexual. A Educação Sexual será também abordada em outros tempos de aula, mais precisamente: em área de projecto e estudo acompanhado ou algo semelhante.

3º Recomenda a não renovação de protocolos com ONGs. A escola será a única instituição responsável por este processo em colaboração com os Centros de Saúde da região. Ou seja, Educação Sexual = Prevenção de doenças, anatomia e fisiologia masculina e feminina, contracepção. Aqui temos o modelo bio - médico no seu expoente máximo (Ai... os movimentos anti-escolha e já agora, os movimentos pró-escolha). Onde pára o modelo bio-psico-social da própria medicina ? Mas pronto, tudo bem, o Doutor Daniel Sampaio é que percebe realmente disto e eu ainda terei de comer muita papinha para ficar "grande" como ele.

4º O Doutor Daniel Sampaio reconhece uma lacuna no novo modelo. O secundário. Mas para isso, haverá sempre um gabinete de atendimento nas escolas gerido pelos professores em colaboração com os Centros de Saúde da região.

5º O Doutor Daniel Sampaio diz, e agora todos acreditam, que existem milhares de professores com formação nesta área e que por isso não haverá problema. Os professores estão "cheios de vontade" para trabalhar nesta área. Mas quem os impediu de trabalhar até agora ?

Observação: Alguém se lembra da participação de uma das primeiras telespectadoras ? "A castidade é importante e por vezes a impotência no seio de um casal é importante para manter essa castidade." Que pérola. Em suma, quando for grande quero ser impotente para mais fácilmente ser casto e me tornar santo. Assim, terei acesso directo ao paraíso.
Continuação "Educação Sexual e Moral a martelo"
Grupos, mais ou menos organizados, que com uma delicadeza de elefante descontextualizam e distorcem conteúdos de um programa que pretende ser um auxílio aos educadores. Com semelhantes delicadezas, qualquer um conseguiria transformar uma Bíblia ou um Corão num qualquer “pasquim” de malvadez.Tem vindo a ser proferidas várias acusações contra as “Linhas Orientadoras – Educação Sexual em Meio Escolar” elaboradas pelo Ministério da Educação, Comissão de Coordenação da Promoção e Educação para a Saúde, Direcção Geral da Saúde, Associação para o Planeamento da Família (APF), Centro de Apoio Nacional e Rede Nacional de Escolas Promotoras da Saúde. Estas acusações só podem partir de pessoas que não conhecem, ou mais grave, não querem conhecer o conteúdo integral, pois tal é visível, graças ao próprio teor das acusações, que passo a enumerar e a refutar:Primeira acusação: A APF anda a “ensinar práticas masturbatórias às nossas crianças”. Uma acusação sem qualquer sentido, pois é inútil ensinar algo que não é passível de ser aprendido. Pois, a livre exploração do corpo como fonte de sensações é algo que é feito pelas próprias crianças desde muito cedo, logo não faz qualquer sentido ensinar uma criança a explorar o seu próprio corpo, seria como ensinar alguém a engolir saliva ou a urinar. Na realidade, o que é recomendado a educadores, professores, pais e outros técnicos que lidam de perto com crianças é que alertem a criança de que tal actividade tem um carácter intimo e que, por isso, não deverá ser feita em público, caso tal se verifique. Pois, a criança não “vem ao Mundo” com a consciência social formada, tal é conquistado através da relação com os outros e de forma gradual.
Vem saber aquilo que o Sr. Padre não quer que tu saibas...
Pois é... Um grupo de técnicos provenientes de diversas áreas profissionais frequentou um curso de "Formação de Formadores em Educação Sexual" organizado pela Del. Reg. dos Açores da APF e com o apoio da Comissão Nacional e Regional de Luta Contra a SIDA. Estes formadores reuniram-se e decidiram aplicar o seu Plano de Intervenção Pedagógica, o qual foi resultado do já referido curso, aos jovens da freguesia de S. Mateus (Angra do Heroísmo). Tudo isto de forma completamente voluntária.
Para tal, contactamos o Centro Social (e infelizmente Paroquial) da referida freguesia para que nos cedessem as instalações. A responsável pelo Centro mostrou-se bastante interessada. Porém, e para nosso espanto, passados alguns dias, foi-me dito que o Sr. Padre não nos queria lá, pois iríamos falar de contracepção e ensinar "como fazer abortos".
Mas, nós não desistimos e conseguimos arranjar instalações para a realização do nosso curso, as quais nos foram cedidas pela Casa do Povo de S. Mateus.
Por isso, jovens e menos jovens de S. Mateus se querem saber aquilo que o Sr. Padre não quer que saibam venham ter connosco à Casa do Povo no próximo dia 11 de Novembro às 19:30. Iremos apresentar todos os conteúdos pedagógicos à comunidade de S.Mateus. Não percam !!! Ah... se, o Sr. Padre quiser aparecer também será muito BEM VINDO !

quarta-feira, novembro 02, 2005

Educação Sexual e Moralismo "a martelo"
A educação sexual em meio escolar em Portugal pretende ser muito mais do que um veiculo de transmissão de valores e de reprodução de ideias dogmáticas e impregnadas da moral de uma qualquer religião ou mesmo de alguma corrente ideológica. Infelizmente, há pessoas que querem “travar” os poucos progressos feitos nesta matéria em Portugal. São essencialmente, altas intelectualidades que se auto denominam: defensores e proprietários da moral e dos bons costumes. É por isso, incompreensível como em pleno século XXI se confunda moral com religião e como em Portugal se associa a moral ao catolicismo, fugindo-se assim ao próprio conceito de moral.Vivemos num país, em que aqueles que afirmam que a partir da fecundação de um óvulo estamos perante uma vida autónoma e que, por isso, não podemos tomar decisões em nome dessa mesma autonomia, sejam também aqueles que querem controlar e impor os seus próprios valores morais aos seus filhos(as) e aos(às) filhos(as) dos outros. São estas pessoas que não acreditam na ética profissional de técnicos ligados à saúde, à educação e às ciências sociais e humanas para formarem crianças e jovens. Estamos perante pensamentos e discursos que confundem “inocência” com “ignorância”, que confundem o corpo com a imoralidade e que vivem obsecados com os seus traumas e tabus e que involuntariamente, ou mesmo, em alguns casos, voluntariamente fazem questão de transmitir e reproduzir medos e visões distorcidas da sexualidade humana.
Continua... (artigo publicado no Jornal "A União" a 8 de Outubro de 2005)